Mas, quanto pode sonhar uma mulher preta?
Ou melhor, uma menina preta, que deixa sua cidade, seu estado, sua família, e vai para outra região do país para treinar?
Para muitos (e muitas) o limite é a realidade. Fria, insensível, muitas vezes injusta, violenta e desigual.
Para Rebeca, o limite é a história.
Mesmo sendo uma criança que mal conhece a vida fazendo a escolha mais importante de sua vida.
Mesmo sabendo que o país do futebol, muitas vezes, despreza os outros esportes desde a infância (quantas escolas têm a prática de diversas modalidades durante a educação física?).
Mesmo vivendo num país que pouco investe em esportes.
Mesmo sabendo que mulheres e pessoas pretas precisam não apenas vencer as disputas esportivas, mas derrubar as barreiras do preconceito diariamente.
Nada disso foi capaz de parar Rebeca Andrade.
De Guarulhos para Curitiba. De Curitiba para o Rio de Janeiro. Do Rio para Tóquio. De Tóquio para Paris. De Paris para a eternidade.
Da distância da família para os braços dos brasileiros.
A mulher preta que ganhou uma medalha de bronze em Paris, em equipe.
Que ganhou duas medalhas de prata em solo francês (individual geral e salto) e uma em território japonês (individual geral).
Que ganhou duas medalhas de ouro - uma em Tóquio (salto) e outra em Paris (solo).
Que se torna a atleta brasileira (masculino e feminino) com o maior número de medalhas olímpicas conquistadas (seis).
A mulher preta que se junta à outra mulher preta - Bia Souza - no topo do pódio francês (por enquanto, as duas únicas medalhas de ouro do Brasil nessas Olimpíadas).
Duas mulheres pretas que inspiram e reforçam o coro na luta contra a desigualdade. Contra o preconceito.
Duas vozes poderosas que se posicionam e que ecoam no mundo todo.
Com a medalha de ouro brilhando tanto quanto os olhos marejados após suas vitórias épicas.
E mostrando que não há limites para sonhar, por mais que machistas e racistas insistam em boicotar.
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