O menino-monstro Neymar

O assunto mais comentado na mídia nos últimos dias não é a liderança do Corinthians ou o resultado dos clássicos na última rodada. É a atitude de Neymar no jogo entre Santos e Atlético Goianiense no dia 16/09, quando o garoto discutiu, esbravejou e falou palavrões para o então técnico Dorival Junior.

Desde então, só se fala em Neymar, Neymar e Neymar.

O técnico do Dragão, Renê Simões, alertou que estava sendo criado um monstro, referindo-se a Neymar. Alguns criticaram o jovem, falaram que ele deveria ter sido vendido e o crucificaram, etc e tal. Outros defenderam apenas uma punição ao atleta e defenderam que ele não é um criminoso.

Neymar foi afastado do jogo contra o Guarani e multado em 30% do salário. Alguns, como Dorival, queriam mais. E o treinador optou por deixar Neymar de fora do clássico contra o Corinthians. E foi demitido.

A minha visão sobre o assunto é o seguinte.

O Santos precisa ter um trabalho muito cuidadoso com o Neymar. É um garoto bom de bola, mas que precisa aprender, urgentemente, a lidar com a fama e a se comportar em campo. Ele tem que aprender a respeitar a hierarquia. Ele é um jogador que pode se tornar um craque, mas precisa ter a cabeça no lugar para isso. Tem que respeitar os adversários, como faz quando vai para cima, dribla e faz gols. Tem que respeitar o treinador, como acatar quando uma ordem é dada (vale lembrar que antes da partida contra o time de Goiás já havia sido decidido que Neymar não seria mais o cobrador de pênaltis depois de desperdiçar várias cobranças).

O presidente deveria ter conversado com o treinador sobre a punição e, se entrassem em acordo, que prosseguissem o trabalho, se não, que cada um seguisse o caminho. Mas o que eu percebi é que além de Neymar, o presidente Laor (que vem fazendo uma bela gestão) desautorizou Dorival e mostrou que faltou organização para lidar com esse assunto delicado.

Por fim, a impressão que tenho é que Dorival já havia perdido o domínio sobre o elenco há algum tempo. Vimos jogadores se criticando pela imprensa. Vimos atletas com reações estranhas, como Madson não comemorar um gol. Vimos Zé Eduardo, que estava entrando frequentemente nas partidas e fazendo gols, de repente não ser nem relacionado para uma partida. Aparentemente, a liga entre Dorival e atletas já não tinha muita força.

Acredito que, no final, todos saíram perdendo com o episódio:
- O Santos, pois fica com a imagem arranhada e vê um atleta supervalorizado se meter em confusões que comprometem o próprio atleta.
- O presidente pois não conseguiu lidar bem com a polêmica.
- Dorival Junior por que sai depois de ser contestado por um atleta e pelo presidente.
- Neymar por que fica marcado como garoto mal-educado, mimado, desobediente e que não respeita o treinador. Além do que, agora terá uma pressão ainda maior no Santos.
- E o torcedor, que vê o melhor jogador da equipe, no momento, se meter em várias confusões. E ainda vê o time ficar sem treinador na véspera de um clássico.

Não devemos criticar Neymar além do necessário. Ele errou feio, mereceu ser punido e precisa aprender a respeitar as ordens dos superiores.

Mas chamá-lo de monstro é um exagero. Monstro são os que matam, estupram e roubam. Quem desobedece uma ordem do treinador não é um criminoso.