Ser treinador de futebol no Brasil é estar, a cada dia, na berlinda: se os resultados são bons, os jogadores são valorizados, se o resultado é ruim, a culpa é do técnico. Ser treinador de um time feminino, então, pode ser desafio dobrado. Afinal, em terras tupiniquins, essa modalidade não conta nem com 1% da estrutura e reconhecimento que o futebol masculino possui.
Em entrevista interessantíssima ao programa Nova Esportes, da Rádio Nova Difusora, o técnico Jonas Urias, do Centro Olímpico, fala sobre os principais desafios da profissão.
E, claro, dinheiro não ficou de fora da conversa. "Hoje, se formos comparar o que ganha a melhor jogadora brasileira, a Marta, com o que ganha o melhor jogador brasileiro, o Neymar, ela não recebe nem 1% do que ele ganha mensalmente", conta Jonas.
Encontrar patrocinadores também é um desafio, já que a modalidade tem pouca divulgação. "Isso vira uma bola de neve. Sem verba, as condições de treinamento são piores. Com um treinamento que não é adequado, as atletas não se desenvolvem como poderiam e acabam não apresentando um bom espetáculo. E um espetáculo que não possui grande qualidade, não atrai investimento. E ficamos nesse ciclo, sem saída", lamenta.
A alternativa, segundo Jonas, seria obter mais incentivo do poder público, que deveria apoiar mais o esporte e dar mais condições às equipes e atletas.
Diante desse cenário, como motivar as jogadoras a seguir na profissão? "Temos que trabalhar outros pontos, que não sejam apenas financeiros. Elas são muito apaixonadas pelo que fazem, se entregam mesmo, por isso, trabalhamos muito a questão da união", explica Urias.
Com toda essa falta de apoio, o Brasil vai ficando para trás no cenário mundial. E nem mesmo boas idéias acabam sendo bem executadas, como a seleção permanente. Nesse projeto, algumas atletas passaram a ser bancadas pela seleção e se tornaram jogadoras apenas do Brasil, não mais dos clubes, com períodos intensos de treinamento, mas pouca participação em competições. E essa falta de competição acaba por matar a ideia, já que as atletas ficam sem ritmo de jogo. Além disso, clubes estrangeiros passaram a assediar e contratar essas jogadoras, oferecendo melhores condições de trabalho, salários mais altos e, claro, ritmo de jogo, já que elas disputam campeonatos com frequência. "Times da Coréia, da Suécia e da França, por exemplo, chegavam com boas propostas e levavam essas atletas. A seleção permanente passou a perder diversas jogadoras", conta Jonas.
Apesar disso, ele se mostra esperançoso com a participação da seleção nas Olimpíadas, mesmo em uma chave complicada, com Suécia, China e África do Sul. "Acredito que vamos passar em primeiro no grupo". Questionado sobre as possibilidades do Brasil ser campeão, de zero a 10, avaliou como "4" a chance do ouro ficar em solo brasileiro. E ele avaliou, de zero a 10, como "8" as chances do Brasil ser medalhista.
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