Demorou quatro anos para o torcedor brasileiro esquecer mais uma derrota dolorosa na Copa do Mundo. E agora os fanáticos torcedores da seleção pentacampeã mundial passarão mais quatro anos esperando pelo hexa.
Os 23 convocados se prepararam para uma guerra, comandados pelo general Dunga, que blindou seus comandados e os preparou para vencer batalhas diariamente.
Toda a nação, assim como em 2006, acreditava que a seleção estaria, no minímo, na final.
Mas alguma coisa estava estranha nos guerreiros que entravam em campo.
O drible dera lugar às armas. A alegria contagiante deu lugar à raiva arrebatadora. A magia que consagrou o futebol brasileiro foi substituída pela aplicação tática europeia.
Em campo estava a pesada camisa amarela que ostenta cinco estrelas. A única do mundo com esse brilho.
Brilho que sumiu diante de um técnico que até assumir o jaleco da seleção nunca havia dirigido nenhum time.
E começou aí a série de incoerências, que já são muito conhecidas do torcedor brasileiro. Torcedor esse que há anos atura Ricardo Teixeira como presidente "semi-vitalício" da CBF.
Dizem os especialistas em futebol que devem estar na seleção os melhores jogadores da atualidade. Mas não foi isso que Dunga fez.
Diziam os especialistas em futebol que a seleção precisava ter um elenco bom, não somente um time bom. Não foi o que Dunga fez.
Diziam os especialistas em futebol que Kaká não estava bem e precisava de um reserva, caso acontecesse alguma coisa com o craque da camisa dez. Não foi o que Dunga fez.
Diziam os especialistas em futebol, em 2006, que a seleção brasileira precisava ser renovada. Não foi o que Dunga fez.
O treinador priorizou o comprometimento com a seleção, mas, aparentemente, a habilidade, a técnica e a capacidade de decidir foram esquecidas por ele, Dunga.
O que todos os especialistas em futebol alertavam aconteceu. O craque Kaká não jogou nada e uma peça fundamental no esquema do treinador se contundiu: Elano.
O carregador de piano, polivalente e cobrador de faltas se machucou e deixou um buraco no meio-de-campo da seleção. A ausência de Elano sobrecarregou os volantes, o lateral-direito e, principalmente, o meia mais criativo da seleção, que voltava de contusão e estava aprimorando a forma física.
Nessa hora, o reserva entraria em ação. Ele seria o cara que poderia desequilibrar enquanto o titular não estivesse 100%. Ele daria um ânimo novo, um fôlego, quando Kaká não pudesse jogar uma partida inteira.
Jogadores para isso não faltam para o Brasil. Apenas para citar os que estavam em boa fase nessa temporada (afinal, futebol não é momento?): Ronaldinho Gaúcho (experiente) e Paulo Henrique Ganso (jovem que poderá jogar as próximas Copas se mantiver o nível de futebol apresentado). Dois atletas que poderiam, com uma jogada, decidir uma partida. Mas ambos ficaram assistindo à Copa pela televisão.
Mas, para substituir Kaká ou Elano, Dunga utilizou o lateral-direito reserva!
No ataque, quem poderia substituir o matador Luis Fabiano? Afinal, o Fabuloso estava voltando de contusão também. E o que se viu foi um camisa nove sem ritmo de jogo, errando domínios de bola, passes e finalizações. Seria interessante ter uma opção para dividir essa responsabilidade com ele. Mas Dunga abriu mão disso e levou um jogador que, historicamente, não tem como característica marcar gols - Grafite.
No Brasil, há uma lista enorme de matadores. Apenas para citar alguns: Fred, artilheiro do Fluminense, Diego Tardelli, artilheiro do Brasileirão 2009 pelo Atlético Mineiro, e Adriano, que cometeu muitas mancadas na vida pessoal durante a temporada 2010 no Flamengo, mas é um atleta que impõe medo aos adversários e vinha marcando seus golzinhos.
Outros atletas que atualmente não passam tanta confiança mas têm feito muitos gols e também poderiam ser convocados: Vagner Love, que desandou a fazer gols pelo Flamengo em 2010, Guilherme, precoce artilheiro do Cruzeiro que foi negociado com o exterior ano passado e André, centroavante clássico do Santos, jovem e com muito potencial. Mas Dunga optou por Grafite, um bom jogador, mas que não encaixava no esquema montado pelo treinador.
Na lateral-esquerda, nenhum dos convocados deu certo. Adriano, Marcelo, Michel Bastos, André Santos... E Dunga acabou convocando, de última hora, Gilberto, remanescente da Copa de 2006, quando era reserva de Roberto Carlos, que em 2010 jogou muito mais do que o MEIA do Cruzeiro.
Os dois convocados para a lateral-esquerda jogaram nos últimos anos como meias em seus clubes. Já que nenhum deles se encaixou na seleção, por que não levou um jogador experiente em Copas e que estivesse atuando na lateral?
Em uma seleção brasileira é inadmissível ter que improvisar jogadores em outra posição. Talvez, no mundo, o Brasil seja a única seleção que tem atletas de alta qualidade para todas as posições, contando titulares e reservas.
Mas o treinador não optou pelos melhores jogadores da atualidade. Optou apenas pelo comprometimento, fator, claro, que pesa muito em uam convocação. Só que não pode ser o único.
Afinal, Julio Baptista é reserva na Roma há muito tempo, assim como Doni. É inegável que ambos foram muito bem na Copa América, mas isso foi há quanto tempo? Três anos!
E o que há para se falar da convocação de Felipe Melo? Um jogador instável, com certa qualidade para sair jogando, mas que abusa da força nas divididas. Um jogador que por onde passou não deixou saudade.
E a tal da renovação... Lucio, Juan (a melhor dupla de zaga do mundo), Gilberto, Gilberto Silva, Kaká e Robinho integravam o grupo que fracassou em 2006 e já passaram dos 28 anos (com exceção de Robinho, que tem 26). Kleberson, hoje com 31 anos, já havia disputado a Copa de 2002. Elano, Maicon, Julio Baptista e o zagueiro Luisão têm 29 anos; Josué, Grafite e Luis Fabiano têm 30. Os goleiros também já estão com uma idade alta: Doni e Julio César têm 31, enquanto Gomes tem 29. Daniel Alves tem 27. Felipe Melo, Nilmar e Michel Bastos têm 26.
Ou seja, dentre os convocados temos apenas dois jogadores abaixo dos 25 anos ou têm essa idade: Ramires e Thiago Silva.
Na Copa do Mundo que será realizada no Brasil, em 2014, poderemos ter uma seleção totalmente diferente dessa, com um ou outro remanescente do torneio disputado na África.
Será que Kaká, Robinho e Luis Fabiano, que estarão na casa dos trinta anos, estarão jogando o bolão que jogaram nessa temporada? E os zagueiros? Lucio e Juan continuarão com esse ritmo de jogo? Os goleiros continuarão fechando o gol?
Ou seja, o planejamento todo fracassou. Dunga, quando questionado se não levaria ninguém para "ganhar experiência" para a próxima Copa respondeu que só pensava em 2010.
Pois é, ele fracassou, não conquistou o título, não renovou a seleção e, talvez, o meio de campo e o ataque inteiro da seleção brasileira em 2014 estejam debutando em Copa do Mundo.
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