terça-feira, 20 de outubro de 2009

Imprensa cega

Lamentável e desrespeitoso. Dessa forma é que a imprensa está lidando com a histórica conquista do Santos FC nesse domingo.

Há décadas as mulheres vêm lutando para terem maior reconhecimento na sociedade. Conseguiram vitórias importantes como a equiparação salarial, mais oportunidades de emprego, mas são vitórias que ainda não estão completas. Ainda nã há igualdade de possibilidades e valorização.

O futebol, paixão do brasileiro, reflete bem isso.

Há alguns anos o futebol feminino tem crescido no Brasil por pura determinação das mulheres, apoiadas em alguns pilares incentivadores do esporte. Condições de praticar o futebol feminino quase não existiam: o calendário, até pouco tempo, não existia, as meninas não recebiam salário e os campos eram semelhantes aos encontrados nas várzeas.

Mas a situação começou a mudar com a evolução do futebol feminino no Brasil. Mas, que fique claro: evolução do futebol praticado pelas meninas, não da estrutura.

Com o aparecimento de Marta, Cristiane e cia, o futebol feminino começou a ganhar força. A final do Pan-Americano com o Engenhão lotado foi marcante. Mas, de lá para cá, pouco mudou.

O Santos resolveu investir na categoria. Deu condições melhores do que as encontradas pelo país, mas ainda longe do ideal. Investiu em contratações, entrou com força nos campeonatos, trouxe uma equipe técnica para orientar as garotas e, em 2009, os resultados começaram a surgir.

Em um ano fantástico, as Sereias da Vila deixaram a torcida alvinegra cheia de motivos para comemorar, mesmo na fase "pré-Marta":

- Campeãs da LINAF com 100% de aproveitamento - 23 vitórias, com 164 gols marcados e 6 sofridos, sendo 3 nos dois jogos da final contra o Corinthians (4x2 e 2x1).

- Finalistas do Campeonato Paulista contra o Botucatu (um dos melhores times de futebol feminino do país), ainda a ser jogado (24 e 31 de outubro) - campanha de 13 vitórias e 7 empates.

- Copa Mulher - eliminadas na semi-final por não ter time para disputar o torneio devido à convocação de 9 jogadoras para a Seleção Brasileira

- Copa do Brasil - classificadas para a segunda fase, onde enfrentarão as meninas do Mixto - MT, nos dias 22 e 29 de outubro.

Foram mais de 200 gols marcados e menos de 20 sofridos em seis meses.

Mas a coroação estava por vir em outubro, com a conquista da Libertadores feminina, com Marta e Cristiane na equipe.

Porém, a conquista teve pequena repercussão. Os jornais impressos pouco citaram o título (um jornal chegou a colocar somente um"quadrinho" falando sobre a conquista).

O empate sem gols do time masculino foi mais comentado do que a conquista das meninas. Um descaso e um verdadeiro "chute no estômago" daqueles que defendem e incentivam o crescimento do futebol feminino.

A imprensa deveria destacar a conquista, valorizar o esforço e cooperar com a evolução da categoria, além de cobrar que o trabalho feito por Santos e Botucatu seja exemplo para outros grandes times.

Mas, a grande imprensa não tem olhos para o futebol feminino e pouco enxerga as outras modalidades.

Ao invés de somente comemorar os Jogos Olímpicos que ocorrerão no Rio de Janeiro, a imprensa deveria é cobrar mais incentivo aos esportes "extra-futebol", masculino e feminino.

O que faz a imprensa esportiva hoje é apenas tapar o sol com a peneira e se conformar em apenas vender jornais, não em informar com mais qualidade e variedade.

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