O primeiro jogador de futebol que eu admirei foi Romário. Lembro até hoje de quando ele fez aquele golaço contra a Holanda, na Copa do Mundo de 1994.
Naquela época, eu tinha apenas seis anos de idade, mas já era apaixonado por futebol.
Nos anos seguintes, a eficiência de Romário não foi o suficiente para me atrair mais do que as jogadas sensacionais de um tal de Ronaldo.
A superação das lesões nos joelhos na Copa de 2002 foi um exemplo e a consagração daquele que eu considerava o melhor jogador que eu vi jogar.
Enquanto Ronaldo mostrava ao mundo seu talento com a bola nos pés, Romário fazia gols e mais gols. E discutia com Pelé, até dar a histórica declaração: "Pelé calado é um poeta".
Anos depois, repensei a frase: "Ronaldo calado é um poeta".
Tudo por causa da declaração repugnante que ele deu ao assumir o cargo no Conselho Administrativo do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014.
Traduzindo para a vida real, ele assumiu o cargo de escudo para o odiado Ricardo Teixeira, presidente "vitalício" da CBF.
Ao colocar o "Fenômeno" na equipe que organiza a Copa do Mundo mais cara da história, Ricardo Teixeira dá uma tacada de mestre: se aproxima de alguém popular e diminui as críticas aos absurdos gastos do Mundial.
E Ronaldo começou bem no cargo ao dar uma declaração que reflete bem o espírito que parece ser o da CBF: "Uma Copa do Mundo não se faz com hospitais".
Esse absurdo foi uma resposta a uma pergunta sobre os gastos elevados em estádios e etc.
Dinheiro que ao invés de ser investido em hospitais, segurança pública e educação, está sendo investido em "infraestrutura para a Copa".
Muitos podem dizer: "mas sem a Copa esse investimento nunca seria feito".
Lamento, senhores, mas um erro não justifica outro.
O que está sendo gasto nesse Mundial é algo que revolta a qualquer ser com bom senso.
O país cujos professores recebem entre dois e três salários mínimos.
O país onde policiais são obrigados a fazer "bicos" fora do expediente.
O país com vias esburacadas e aeroportos caóticos.
O país com filas imensas nos hospitais públicos.
É o mesmo país que gasta mais do que quatro nações juntas gastaram para receber o Mundial. E o valor cresce mensalmente.
Em meio a um protesto contra o presidente Lula - muitos sugeriram que ele fosse tratar o câncer no sistema público de saúde, surge essa declaração imbecil, estúpida, que beira a cegueira.
Parece que Ronaldo não enxerga o país em que vive.
Ou não se importa com isso.
Afinal, ele não precisa do sistema público de saúde.
Os filhos dele não frequentam as escolas públicas.
Mas, o próprio povo se preocupa com essas questões?
Se os brasileiros se interessassem por esses problemas, teriam colocado um palhaço para nos representar no Congresso?
Talvez, a declaração de Ronaldo não represente apenas o terrível espírito que a CBF deixa transparecer.
Mas, infelizmente, talvez seja a opinião do povo.
Se o país não tem educação, saúde e segurança, que ao menos tenha jogos em poltronas confortáveis.
Dizem que cada um tem o que merece.
E eu tenho vergonha de pensar no que o Brasil merece por causa do conformismo diante dessa situação.
Pois, pelo jeito, não seria nada diferente da nossa realidade.
Uma realidade desgraçada.
- PS: eu sonhava com uma Copa do Mundo no Brasil. Hoje, tenho nojo e raiva.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
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